De xadrezes e ventanias

Flaap, flaap. Persianas colidiam severamente ao sabor do vento naquela tão escarlate parede. Vento esse que percorria todas a casa. Sala, quarto, cozinha, hall... nenhum ileso. Vento que enriçava os pelos daquela bela mulher envolta em seus lençóis. Envolta em seus lençóis e pensamentos. Há tempos só o vento a fazia enriçar os pelos...E pensava, há quanto tempo sua alcova não era visitada por (outro) alguém ? O único calor presente naqueles lençóis era o proveniente de seu laptop, 24 horas ligado. Tinha que se ligar no mundo para se desligar de si mesma, era pesaroso pensar em si mesma as vezes.

E abotoava com carinho os botões de madeira da camisa xadrez que vestia. Engraçado, isso lhe fazia lembrar sua infância. Sonhava com o dia em que acordaria numa cama muito similar a que estava naquele momento portando uma linda blusa xadrez , como a que vestia, do homem de sua vida que também se encontraria naquele recinto. Reticências.Havia comprado aquela camisa nesse intuito de realizar seu sonho de criança. Movimento do it yourself, feminista, irritantemente autosuficiente e irremediavelmente solitário. E que horas eram ? Ah.. feriado, havia esquecido. Estava tão envolta no trabalho que havia retirado do seu calendário mental os dias de folga. Claro, pra quê folga ? Nunca tinha nada para fazer ... Ora, pra quê se lamentar ? Tinha um ótimo emprego, uma carreira bem promissora, era bonita, inteligente e ... enfim, não tinha motivos para lamúrias. Aparentemente. Existe um momento na vida de uma mulher onde seus pais morrem, sua família já constituiu novas ramificações da mesma e seus amigos .. humpft, fazem jantares em casais e filhos da mesma idade. O melhor a se fazer é virar para o canto e dormir. Fim de assunto. E de carreira também.

0 comentários:

Postar um comentário

Seguidores